Capela Sra. das Dores

Em 6 de Outubro de 1750, tomou posse da paróquia de São Martinho de Bougado o Abade Inácio de Morais Sarmento Pimentel, devoto fervoroso de São Martinho, padroeiro da freguesia.
Porém, a sua devoção, não com menos fervor, estendia-se também à Nossa Senhora das Dores, transmitindo-a aos seus fiéis e instituindo-a na paróquia. É então que surge a ideia da erecção de uma capelinha em sua honra, num lugar ermo e inculto, ao tempo conhecido por "monte da carriça", hoje o frondoso e lindo parque da Nossa Senhora das Dores.
Para a construção da capelinha por devoção à Virgem das Dores - Nossa Senhora das Dores da Maia como depois então foi conhecida - houve necessidade de pedir licença ao Bispo da Diocese do Porto de que a paróquia de São Martinho de Bougado era parte.
O pedido foi concebido e redigido nestes termos, ajeitados para a linguagem actual, sem perda do sabor de então:

“Il.moo e Rev.mo. Senhor:
Dizem os moradores da freguesia de São Martinho de Bougado, na Comarca da Maia, deste Bispado, que eles pela sua especial devoção que têm a Nossa Senhora das Dores desejam erigir-lhe uma capela no lugar chamado Monte da Carriça, junto da estrada nacional que vai para Guimarães e Braga, ficando eles e seus sucessores obrigados à fábrica e armá-la de todo o necessário, no que convém o seu Reverendo Abade da mesma freguesia como consta da escritura junta.
Para V. Reverendíssima lhe faça mercê conceder Licença para erecção da dita Capela, e mandar se lhe constitua património na forma se oferecem na dita escritura; por ficar bem seguro na obrigação geral de todos os moradores da freguesia em suas pessoas e bens".
A escritura a que se refere este pedido era acompanhada da procuração seguinte, assinada pelos indivíduos que o fizeram e se responsabilizaram pelos custos da obra da ermida:
"Procuração bastante que fazem o juiz da Igreja de São Martinho de Bougado, Gabriel Costa, oficiais e mais fregueses da dita freguesia perante mim, o Padre Hilário António Faria da mesma freguesia.
Pela presente fazemos nosso bastante procurador ao Sr. António Pinto de Carvalho, assistente na cidade do Porto, para que em nosso nome possa assinar quaisquer termos necessários no Auto de património em virtude de uma escritura que fizemos nos obrigamos ao ornato e sustentação da capela de Nossa Senhora das Dores, sita e erecta nova no lugar do Monte da Carriça, nesta nossa freguesia de São Martinho de Bougado e poderá o dito nosso procurador jurar em nossas almas todo o lícito juramento nos termos em que nos possa, obrigando-nos a tudo cumprir por nossas pessoas e bens e os nossos sucessores e responder no juízo Eclesiástico na forma que nos obrigamos na escritura que anda junto aos autos para o que damos ao nosso sobredito procurador todos os poderes em direito necessários e rogamos ao Rev. Padre Hílário António de Faria, cura desta nossa freguesia, esta por nós firme e assinasse pelos que não souberam escrever, e eu subscrito Padre a fiz em 26 de Agosto de 1 766.
O Padre Hilário António de Faria, Gabriel Costa, Francisco Dias, Manuel do Couto, José António Pereira S. Payo, (Assinam de cruz, isto é, desenham uma cruz representativa das suas assinaturas): Domingos Francisco, Manuel da Costa, Custódio Francisco Dias, António Dias, Francisco Pereira, João Francisco, António Sousa.

Reconheço a letra acima desta procuração ser do meu padre coadjutor Padre Hílário António de Faria.
S. Martinho de Bougado, 16 de Agosto de 1766.
O Abade, Inácio de Morais Sarmento Pimentel".


O primitivo templo, que resultou desta iniciativa, seria talvez uma pequena ermida, erigida no "Monte da Carriça", que foi substituída, em finais do século XIX, pela actual capela, erigida no mesmo local, agora parque de Nossa Senhora das Dores.
Assim devia ter sido o primitivo templo, porque de uma capela se tratava. Interiormente teria o altar-mor e dois altares laterais, com as mesmas imagens que presentemente ali se encontram, exceptuando a da Senhora das Dores que foi substituída por uma maior, isto segundo um inventário em 1879.
Nesta data, um século depois da sua construção, a capelinha era demasiado pequena para tão elevado número de devotos que a ela acorriam em cumprimento de promessas. Por outro lado encontrava-se bastante arruinada. Disto dava conta o povo quando cantava:
"Senhora das Dores da Maia,
A vossa capela cai.
Mandai-a já levantar
Pelo povo que aí vai!"

E foi demolida, para dar lugar a um templo elegante alargado e arquitectonicamente belo, embora de linhas sóbrias. Principiaram as obras em Agosto de 1879 por iniciativa, desejo e vontade do Comendador Ribeiro, de Santo Tirso, e mais tarde Conde de S. Bento.